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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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Dias, noites, erros, acertos, lágrimas, sorrisos. Tudo em câmera lenta. Digo por mim, que cada ocasião, seja ela boa ou ruim, pode trazer aprendizado. É o jogo do saber o que se deve e o que não se deve mais fazer. O único jogo em que só se joga uma vez por vida.
O que eu vejo nela? Um jeito incomum, um brilho que reflete a vida, uma paz que acalma.
Diferente do que ouvi dizerem, o amor (AMOR) é inesgotável. Se começar pelo pensamento de que um dia tudo pode acabar, esqueça, esse não é o seu amor. Seu amor é aquele que quando apenas te olha faz chacoalhar todos os seus órgãos vitais.
Não existe fim. O amor quando duplicado a tudo sobrevive. E não há quem ou o quê me convença do contrário. Longíssimo de mim ser um bobão, apenas não sou feito de metal. Estou vivo e antes de terminar esse texto posso estar morto, isso me faz pensar que, se existe no mundo uma pessoa que faz sentir-me importante, incentiva meus atos e apóia meus fracassos, a ela vou devotar mais que belas palavras.
Aprendi com ela que devo ir à aula ao invés de ir à praia. Que os opostos não se atraem, as pessoas precisam mesmo é combinarem. Que devo buscar o melhor caminho que a vida puder oferecer.
Agora responda-me você: Se juntasse todo o seu dinheiro durante vários anos e no fim comprasse um lindo carro, deixaria qualquer um dirigi-lo? Acho que sei qual seria sua resposta. Deve estar se perguntando, e o que tem haver, o dinheiro, o tempo e o carro.
Servem de exemplo, pois jamais gastaria tantos anos, para no fim, entregar meu coração nas mãos de quem não soubesse como cuidá-lo.
Enganado, posso estar. Mas contra isso, há um conceito que anula meu engano. “Não há razão em encontrar o que nunca foi perdido. Perca-se” Portanto, se estiver realmente perdido, ficarei feliz em saber que estou há um passo de encontrar meu caminho.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

EU QUERIA SER...

Alguma vez você já saiu de casa com a sensação de que alguma coisa diferente vai te acontecer no trajeto? Pois é, isso me acontece direto. Em uma dessas, fui visitar um grande amigo, vizinho de bairro que já não encontrava há algumas semanas. No dito trajeto, o inesperado, ou melhor, a coisa diferente que minha intuição já aguardava, ocorreu nos primeiros passos do caminho.
Ainda próximo de casa, passei por um colégio, fui cercado por um grupo de crianças aparentando seus oito ou nove anos de idade. Estavam todas muito empolgadas com alguma coisa, falavam todas ao mesmo tempo e eu não conseguia decifrar uma só palavra. Portanto, pra acabar com a algazarra, mirei uma nos olhos e fiz dela o alvo da minha impaciência. Fechei a expressão e gritei: __ Cala a boca! Tadinha começou a chorar. Me desculpei de imediato e arrependido pedi para que falassem um de cada vez, agora o que me atrapalhava o entendimento era o soluço do coitado que ainda chorava de susto.
Uma menininha muito frágil e simpática, explicou-me que a turma acabara de sair da aula de ciências e a tia Telma mandou entrevistar pessoas na rua com a seguinte pergunta: Que animal você gostaria de ser ? E por quê? A resposta precisava ser escrita num pedaço de papel junto a um comentário de justificativa, e estes seriam sorteados. Assim o animal que fosse sorteado, seria homenageado, com as crianças fantasiando-se dele no dia da festinha.
O menino chorão fungou o nariz, olhou para mim com os olhos vermelhos, e lacrimejando disse: __ Ajuda aí tio, é pra semana da natureza, sniff...
Nossa... Aquilo me cortou o coração. Eu estava com um pouco de pressa, mas como primeiro dos entrevistados não podia recusar-me de forma que destruísse a tal "semana da natureza" daquelas mais ou menos 30 crianças. Aliás, era só escrever o nome do bicho e dizer por quê eu queria ser aquele bicho?
Pois bem, aí que está, tratando-se de escrever, acabei me empolgando na resposta.

Semana da Natureza:
Pergunta:
Que animal você gostaria de ser ? E por quê?

Resposta:
“Acredito que a maioria das pessoas dirão, águia, leão, tigre ou qualquer outro animal capaz de expressar superioridade. Tenho mania de diferir das coisas quase normais e corriqueiras.
Por isso tia Telma, para o seu provável espanto, digo com a devida certeza que o urubus são aves admiráveis. E se pudesse, com todo prazer seria um deles. Por favor não os ache nojentos, realmente não são dos mais cheirosos, mas olhe pelo lado bom, além de colaborarem um tanto com o meio ambiente, há também um tipo poético na maneira em que se comportam. Os urubus tem classe e graciosidade para voar, quando alcançam as correntes de vento planam por horas sob as nuvens, por serem profundamente solitários esbanjam humildade, porém sentem-se excluídos com tanta descriminação.
Por mais que tocá-los seja crime, a desigualdade com que empregam sua espécie exemplifica o racismo entre a humanidade. Não me acharia um animal bonito se fosse feroz, rei da selva, predador ou coisa assim. Menos ainda se tivesse um canto afiado, penas reluzentes de cores chamativas e passasse meus dias de sol preso numa gaiola. Prefiro ser um urubu, ninguém prende, livre o dia inteiro, comendo minha carniçinha vez ou outra, sem ter que cantar pra alguém ouvir ou matar para viver.”
Resposta escrita, dobrei o papel em quatro partes e depositei em uma urna de cartolina. Ficaria contente caso minha resposta fosse sorteada. Já livre da entrevista, imaginei todas àquelas crianças vestidas de urubuzinhos para comemorar a “semana da natureza” em homenagem a minha resposta. Ri bastante.

Thiago Sicuro

quarta-feira, 16 de julho de 2008

FORMALIDADES À PARTE

Algumas pessoas confundem formalidade com boa educação, e acabam fazendo disso um bom motivo de risadas para os observadores de atitudes. Isso é fato.
O uso excessivo das palavras que julgamos bonitas de serem faladas, sílabas encorpadas e sons estonteantes, pode resultar em cenas tão desnecessárias quanto as mesmas.
Aliás, se falar bonito fosse sinônimo de boa educação, formalidade seria matéria do colegial. Que a pura verdade seja dita, na maioria das vezes torna-se tão ‘bonito’ que alcança a vulgaridade, ultrapassando a tolice e já chegando ao ridículo, essa é a parte cômica da história, a melhor parte.
Basta sentar-se por um curto espaço de tempo em um boteco de esquina que disponha de banheiro, e verá que ao menos três pessoas ainda sóbrias dirão a mesma frase ao balconista. __ Ô amigão, será que eu poderia dar uma urinada no seu miquitório? “Urinada no seu miquitório”, Analise essa frase. Além de horrível, adiciona uma formalidade grotesca e desnecessária na hora de mijar.
Sem falar naqueles que param pessoas na rua, olham com ar de insignificância e as perguntam: __ Por obséquio, poderia me informar as horas? Dá vontade de não responder.
Mas ódio de verdade, tenho das pessoas que nunca viram a outra na vida e mesmo assim, agem com profunda intimidade, geralmente acontece no meio feminino: __ Olá coração! __Tudo bem meu amor? __Imagina delícia! __Por nada fofinha... É um rasga ceda de enojar, e nós que olhamos de fora, ficamos ali, tentando descobrir qual delas parece ser a mais falsa.
Sem causas para espanto, existe também o outro lado da história, as pessoas nada formais, e por incrível que pareça este lado além de engraçado é um tanto irônico.
Coisa de uns dias, seguia viagem num coletivo ligeiramente abarrotado, acolhi-me num dos primeiros bancos, próximo ao motorista. Ponto adiante, uma senhora na casa dos 90, já fazendo horas extras, curvada e aparentemente sensível, assinalou com vigor, o ônibus pára, a senhora franzi as sobrasselhas e sobe num pique só.
Ouço o motorista dizer: __ Senhora, esses ônibus são modernos, a senhora precisa mostrar a identidade para a câmera filmar, ali na frente. Atordoada e com pouca paciência a velha enruga um pouco mais a testa em expressão de ódio e surpreende meia centena de passageiros ali presentes.
Ouço a senhora dizer: __ Hááá, mostrar pra câmera? Olha o que eu mostro pra câmera, diz a velha esticando com força o dedo indecente.
Pasmos, os passageiros num só coro diziam: __ Óóóóóóó....
Sem tomar fôlego, a velha complementa baixando ainda mais o nível: __ E o senhor, é um motorista veado e filho da puta, vai-te a puta que pariu e enfia a câmera e o ônibus no meio do olho do seu cú...
Após segundos de xingamentos pela voz aguda e trêmula daquela senhora, pensando já ter visto tudo de pior, a velha surpreende todo o coletivo novamente, desta vez, levantando sua blusa de tricô e mostrando para a câmera um par de seios murchos, de dar inveja a qualquer cadáver.
Depois de tudo, repensei meus questionamentos. E comparando as cenas formais por mim vistas e aqui contadas, com o desacato sexual de uma senhora de 90 anos de idade que já esqueceu o que é formalidade, qualquer um pode concluir que é preferível optar pelo meio termo. Nem mais formal, nem menos formal. Sejamos apenas normais.

Thiago Sicuro.

sábado, 5 de julho de 2008

A ARTE DE SER POBRE.

Algumas vezes fica impossível da gente tentar esquecer que é pobre. Um dia desses por exemplo, cheguei em casa depois de um daqueles dias longos e ingratos, desejando um banho com toda força de uma alma cansada. Arranquei o cinto puxando-o com uma das mãos enquanto a outra desabotoava com pressa a camisa suada, arremessei distante os sapatos usando o impulso feito com os pés, um para cada lado, não há sensação melhor que essa para quem quer esquecer que viveu um dia ruim.
Por fim, já munido de roupas limpas, toalha seca e uma cueca cheirosa, dirigi-me com pressa ao banheiro, sem mesmo dar boa noite aos que presenciaram minha passagem de entrada pela sala, já que não há outra porta que leve ao único banheiro da casa. Após uns quase trinta segundos tentando trancar a porta do banheiro, que além de sanfonada, estava emperrada, empenada, depenada e desalinhada, consegui um lugarzinho debaixo do chuveiro para tomar meu tão esperado banho. Antes disso, o aguardado e tradicional choque do registro, que por um momento breve me fez esquecer da água gelada que caíra lenta e pingante.
Ensaboa pra cá, lava pra lá, e como todo ser humano que se julgue normal, por mais que eu conheça cada quadrado de azulejo do banheiro, inicio um processo de reparação do ambiente, onde observo ao lado do espelho gasto, duas calcinhas molhadas, uma amarela e outra marrom (ou que um dia já foi branca), provavelmente uma de propriedade da minha irmã e outra de uma assídua amiga freqüentadora de minha residência, já que os tamanhos eram diferentes. Mais ao lado, na prateleira de plástico, um outro sabonete, este bem encabelado, e uma pasta de dentes apertada bem no meio, que raiva isso me dá.
Esfrega por cima, enxágua por baixo, e lá vêm o grito maternal alertando o fim do banho: Sááááái daí garoto que seu pai tá quase se cagaaaaaando!!! Agora, já não mais apressado e sim assustado com uma possível tragédia fecal, sem hesitar lancei-me de box à fora. Tentando descolar da bunda a cortina de plástico molhada, acabei deixando a toalha cair numa poça d’água, e o que antes era seco, agora se faz encharcado, molhando ainda mais um corpo que só queria descanso.
Finalmente fora do banheiro, encontro o desodorante sobre a mesa da cozinha, ou creme de suvaco como diz meu irmão. Aplico uma leve camada debaixo dos braços e sigo para cama com as axilas dominadas pelo cheiro hipnótico da alfazema.
Deitei, nesse instante meu corpo demasiado pela dor lombar, me concede um alivio inexplicável por palavras que conheço. Ajeito o travesseiro, fecho os olhos, e ouço vozes. Pergunto ao meu eu: __Ué, ainda nem dormi e já estou sonhando? Meu eu responde: __ Não, é sua irmã, uma amiga e uma amiga da amiga dela conversando.
Numa hora dessas a gente tenta desconsiderar pra dormir logo, mas é impossível. Pior de tudo que o papo nem era cabeça. Diziam: __ Cara, minha menstruação jorra. __ Hum, a minha sangra de pingar... Penso eu: Ainda bem que hoje vou dormir sem jantar.
Encolhi-me no cobertor e devagarzinho as vozes foram sumindo, sumindo, sumindo, até que adormeci.
Naquela noite sonhei que era rico, mas nem era tão feliz. Acordei e percebi que a pobreza vem acompanhada de improvisos, criatividade e além de tudo, muito bom humor. O pobre é assim mesmo, pra tudo dá-se um jeito, nada é perdido, tudo é aproveitado, vive apenas com a seriedade necessária. Já dizia um antigo ditado feito aos pobres: Pra que levar a vida a sério se a gente nasceu de uma gozada?

Thiago Sicuro

domingo, 29 de junho de 2008

UMA CRÔNICA A FELICIDADE

Quero chutar os problemas e falar um pouco de amor, das coisas boas que a vida me deu. Acordar cedo e respirar bem fundo, pra sentir a importância de poder estar vivo e enxergar o mundo, os pássaros e tudo que seja mais belo do que eu.
Descobrir a cada dia um novo cheiro, um novo gosto, uma nova cor, um novo som, um novo jeito de tratar as pessoas, descobrir uma nova vida todo dia, um novo dia toda vida. Quero uma felicidade que eu possa guardar só pra mim, sem precisar mostrar para os invejosos, sem fazer loucuras que por mais que eu não queira, são sintomas inevitáveis de alguém que se sente feliz.
Como por exemplo: Cantar... cantar... cantar... Repetir quantas vezes a garganta permitir, aquela parte daquela música que diz: “hoje eu vou tomar um porre, não me socorre que eu tô feliz”...
Sair sorrindo na capa de todos os jornais de domingo com os seguintes dizeres no rodapé: Ele é feliz. Invadir um hospício e libertar todos os loucos, mas antes dar uma plaquinha na mão de cada um com os seguintes dizeres: Somos loucos uns pelos outros...
Emparelhar meu dedo indicador ao nariz de um tenente do exército, rir bem alto da cara dele e antes de ser preso dizer pausadamente que sou feliz, ou sai lá, saltitar pela praça de alimentação de um shopping qualquer.
Encontrar um bêbado bem bêbado e deixar ele ainda mais bêbado, de modo que ele tome nojo da cachaça até a próxima encarnação.Só pra ouvir dele aquela conversa de bêbado que todos nós já ouvimos um dia: ### você é um cara bom, porque você é um cara feliz ###.
Talvez subir nas costas do Araribóia e passar o dia acenando para o Cristo Redentor, ah... essa é muito boa, pendurar o presidente da república na janela mais alta do palácio do planalto até ele prometer um mínimo que no mínimo dê para comprar o arroz e o feijão e quem sabe até uma dúzia de ovos, e depois dizer pra ele que mesmo que não cumpra sua promessa eu vou continuar sendo feliz... Com fome, mas feliz.
Jogar terra no sorvete das crianças mal criadas, botar o cachorro pra morder o carteiro, xingar minha vizinha, aquela velha miserável, por tudo que ela me fez o ano inteiro... mas que mesmo assim foi um ano feliz!
Tudo bem, não sou rico, não tenho carro, não tenho moto e nem casa própria.
Não sou play boy, nunca tive enxaqueca não me chamo Richardhy e nunca fui à Europa.
Sou pobre... Ando descalço, como churrasco, moro no morro, acordo cedinho, e sou cheio de manias, mas sou feliz!!!
Por encher um papel de palavras absurdas, e fazer poesia.


Thiago Sicuro

Consciência e eu

Imagina só, um quarto espaçoso e uma cama redonda, dentro de uma casa tão confortável que parece ser nossa. Nós dois ali, sem termos o que dizer um para o outro, mas sabendo exatamente o que fazer. E a distância que nos separa ficando cada vez menor, cada metro desfeito em passos leves, sentindo a respiração oscilar, nunca para menos.
Olhando fixo, sem dizer absolutamente nada, só olhando, se aproximando com êxtase, desejando o que o corpo permitir de mais obsceno. Mapeando os centímetros num instante tão breve quanto aguardado, onde ascende-se um fogo escondido.
Nada pode invadir esse momento, nem mesmo um terremoto. Somos nós, somente nós, envolvidos por um olhar congelado que faz de agora uma eternidade. Somente nós e esse desejo que só cresce, que nos deixa trêmulo dos pés a cabeça, e rouba nossas vozes, sobrando gemidos apenas. Ruídos estranhos, tremores e nosso suor, frio.
Faço da ponta dos meus dedos meus olhos, e percorro cinco deles observando seu corpo, seus seios, sua cintura, suas coxas, enquanto com os outros cinco tento conter sua aflição, tampando sua boca e segurando seus cabelos, hora os puxando, hora os apertando de forma suave junto a sua nuca.
Agora me abrace, vamos sentir nossos cheiros... Entranha seu perfume em mim pra que nunca mais vá embora, pra que eu durma com você todos os dias da minha vida!
Meu Deus o que é isso? É pecado? Não, não pode ser! É algo puro que todos no mundo deviam conhecer, é a expressão de um corpo que sem opções, deseja outro como parte dele próprio.
Nossas bocas não aguardam sequer um segundo a mais, logo se abocanham, sobrepondo um beijo ardente e incontrolável. Um beijo que suga minha alma para fora, um beijo que nem parece ser um beijo, parece mais um abraço apertado, uma mistura de ansiedade e desespero que acabou dando certo.
Não faz isso... Sim, faça isso, faça de novo... Molhe bem a sua língua e venha conhecer mais de perto o meu corpo. Prenda bem a respiração e vaze lentamente todo ar nos meus ouvidos, faça do meu colo seu assento, dos meus ombros seu apoio e transforma essa vontade incontrolável numa noite insana e quase perfeita.
Porque somos apenas duas crianças, dois amantes do corpo alheio balançando as fantasias.
Querendo um espaço no mundo pra fazer o que tramamos, sentindo na boca o gosto quente de saliva, ouvindo uma musica doce ao fundo da nossa brincadeira, você descendo e eu subindo, você subindo e eu descendo, duas crianças em uma gangorra que range alto, um balanço de corda cumprida, que quando empurrado nos leva às alturas, sem friozinho na barriga, só tesão.
Imagina só!


Thiago Sicuro

terça-feira, 6 de maio de 2008

O PERIGO DE CADA DIA







A velocidade não me fascina
Não mais do que meu próprio equilíbrio
Levo o perigo na minha rotina
Encaixado no crânio o meu melhor amigo.

Até onde o inevitável permitir
Segue-se a vida, na contra mão entre caminhos apertados
Entre os maiores do que eu até aqui sobrevivi
Calculando os centímetros mais disputados.

Sagrada é a minha necessidade
Que me protege dos mais imprudentes
A cada dia um ato de coragem
Um par de rodas para cada sobrevivente.


Thiago Sicuro



quinta-feira, 1 de maio de 2008

BALA DE MEL

Autor (Thiago Sicuro)
Popular/Samba


Pela manhã, acordo bem cedo pra tomar café,
Subo no muro e olho a mulher,
Que por algum tempo já vem me encantando.

Todos os dias, eu passo por ela e ela olha pra mim,
Como ela consegue me deixar assim?
Ai meu Deus do céu acho que estou amando!

Vem cá baleiro, me dá uma bala de mel. (2x)
Quando olho pra essa mulher baleiro, me vejo à caminho do céu. (2x)

Quando vou a praça ,
Converso com um cara que é muito maneiro,
Ele vende bala, o cara é baleiro,
E me dá uns conselhos pra ficar com ela,

Ele me disse,
Não perca essa chance de ser o fiel,
Mas antes chupe esta bala de mel,
E depois vai correndo declarar pra ela o seu amor,

_Valeu baleiro!
Você é um cara maneiro e esperto,
Me deu um idéia e deu tudo certo,
Estou tão contente e amando demais.

_Que nada filho!
Você é pintoso e educadinho,
Só precisava de um empurrãozinho,
De amigo pra amigo é assim que se faz...

Vem cá baleiro, me dá uma bala de mel. (2x)
Quando olho pra essa mulher baleiro, me vejo à caminho do céu. (2x)

SUICÍDIO


Esta noite me joguei de um abismo
O vento frio assoviava e me rachava a face ao meio
Vaguei no breu do desespero
E no meu grito ressoava o som da magoa que ninguém Podia ouvir.

Pois no meio do caminho eu me arrependi...

Me joguei de um abismo
Troquei viver por uma noite triste
Tive medo de adiar a morte sem ter mais o que esperar
Me retorci no ar buscando retornar ao mundo em que Cresci.

No meio do caminho eu me arrependi...

Esta noite me joguei de um abismo
Sem pensar nos filhos que eu teria
Sem pensar na paz que nasceria
Depois só queria voar de volta e me perdoar.

Porque no meio do caminho eu me arrependi...

Me joguei de um abismo
E agora aqui estou
De alma pobre e sem corpo
Vendo a mim mesmo sem espelho a frente.

E agora aqui estou
Percebendo amargamente
Que não há razão maior que o encanto pela vida
Que o abismo era só um abismo
E que a vida já era...

Bem no meio do caminho eu me arrependi
E a vida já era.


Thiago Sicuro

terça-feira, 22 de abril de 2008

O PODRE GATO DA MINHA IRMÃ

Só existe uma frase que descreva com exatidão o gato da minha irmã: Ele é um nojo! Pra inicio de conversa se chama Dhiérberson, e minha irmã faz questão que seja escrito com h. De certa forma, até diria que ela é a culpada disso tudo, se ele não se achasse tanto.
Um dia desses cheguei tarde em casa, procurei em todos os cômodos por algum habitante que me respondesse onde estavam meus chinelos, por último, passei no quarto da minha irmã já sem esperanças de que ela estivesse lá sem ouvir meus gritos. Quando abri a porta e acendi as luzes, deparei-me com Dhiéberson de cabeça posta num travesseiro amarelo em forma de sol, quando ele abriu os olhos com toda sua lentidão debochada, olhou bem dentro dos meus, e parecia querer-me dizer algo. Cheguei mais perto e senti que o havia incomodado, então, firmei meus olhos como quem reage a uma provocação. Mas não teve jeito, ele sempre vence meu olhar, parecia me dizer com os olhos: O que você quer? Virei as costas e me retirei para não perder a cabeça e jogá-lo na rua. Ele é realmente podre!
Na hora de comer, o que ele só sabe fazer além de dormir, minha irmã mexe no saco de ração, que tem que ser sabor peixe com flocos de ervilha (se não for essa ele nem cheira) e logo ele fica todo “ouriçado”. Balança o rabo como se fosse um cachorro, come feito um porco e depois dorme como um bode. Ele parece com tudo, menos com um gato.
E outra, se um dia for constatado que no mundo felino existe homossexualidade, terei certeza de que ele é gay. Pois Dhiéberson não faz nada que os gatos machos costumam fazer. Ele não briga, não corre, não pula, não fede a peixe, não mia, nunca sumiu nem cruzou, e para piorar, só se lambe na frente do espelho, como tivesse se escovando na frente de uma penteadeira.
Até que ele não é feio, tem uma cara larga, como um paraibano e a fuça bem avermelhada, minha irmã que o diga. Vive apertando aquele bicho. Talvez gostasse dele se não fosse um poço de arrogância. Ele não é meu inimigo, já tentei acariciá-lo algumas vezes, mas ele simplesmente me ignora, gosta de me irritar e me classificar como insignificante.
Ele é absurdamente esnobe e abusado, contando ninguém acredita. Certo dia, em uma das poucas vezes que foi levado à rua, um cachorro branco e grande cismou de enquadrá-lo com latidos assustadores, Dhiéberson simplesmente piscou calmamente os olhos e virou-se de costas, o cachorro latiu mais umas duas vezes e acabou indo embora de tão sem graça, deve ter ficado com a auto-estima lá embaixo.
Já vi de quase tudo nesse mundo, sogra chata, primo pentelho, velho rabugento, vizinho quizumbeiro... Mas gato metido? Dhiéberson é o primeiro, e espero que seja o último.

Thiago Sicuro

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O CHEIRO DA MOCHILA

É realmente impressionante como um ato que parece ser de tão pouca importância possa nos trazer detalhes nítidos da infância.
Um dia precisei apanhar um livro que estava em um dos compartimentos da minha mochila e após alguns segundos de procura sem sucesso, senti que precisava entrar com o rosto pouco mais a fundo para talvez enxergar o tal livro.
Quando percebi, estava com a cabeça tomada pela parte interior da bolsa, na mais profunda calmaria do silêncio, como se estivesse em estado de coma, induzido pelo cheiro daquela mochila que me fazia lembrar tão bem dos tempos de criança.
Lembrei das vezes em que não estava disposto e simplesmente adormecia na aula, com a cabeça dentro dela, sentindo sua tranqüilidade enquanto meus outros colegas se chutavam ao meu lado.
Lembrei de quando a professora pedia para que aguardássemos o horário de sair da sala, assim que acabávamos a prova. Era o tempo que eu tinha para me excluir do mundo, do medo de algumas coisas daquela época, e até mesmo me resguardar daquela sala onde eu não gostaria de estar naquele momento.
Era como se meu corpo fosse minha alma, e minha mochila fosse o meu corpo. Gostava dos momentos em que me encontrava sozinho sentindo o cheiro do caderno, o qual por vezes dividiu o espaço com meu crânio que já era grande para minha idade, e parte do meu braço, quando ainda me sentia com a alma exposta. Nem mesmo o recreio me chamava atenção quando estava em inércia, sentindo o cheiro que eu mais gostava de sentir.
Por fim, acabei achando o livro que tanto procurava, mas antes de voltar a realidade e perceber que já não tinha mais oito anos de idade, tive que relembrar. Enfiei com tudo meu cabeção agora adulto em minha moderna mochila do século vinte e um, cheia de zíperes, bolsos acolchoados e que até suporte para Ipod tinha.
Desta vez, dividindo o espaço com uma marmita grande, mas sentindo ainda aquele mesmo cheiro, indescritível, único e que inexplicavelmente me dava um sono instantâneo. Acabei adormecendo na sala da faculdade durante duas horas seguidas, e devia estar bem a vontade, pois quando acordei já não havia ninguém a minha volta.
Por isso, assim que abri os olhos, percebi a longitude da minha viagem e pensei: PRECISO ESCREVER ALGO SOBRE O CHEIRO DE UMA MOCHILA.



Thiago Sicuro

UM TAPA NA SUA CARA



Não sou mais e nem sou menos
Acho que apenas o suficiente
Meu sorriso é para todos
Mas sem paciência não há quem me agüente.

Não consigo agradar todo mundo
Hoje em dia ninguém é capaz
Se alguns não gostam de mim
Perdoem-me, pois pra mim tanto faz.

Um dia eu queria ser poeta
Ter mais de um coração no meu peito
Dormir e acordar com uma caneta na mão
Reconstruir o universo do meu próprio jeito.

Refaria o perdão e o amor
Daria a todos o dom de escrever
Excluiria da vida, a morte e a dor
Nasceriam três sóis em cada amanhecer.

Os pássaros seriam mais livres
Criaria um mundo mais natural
Seria um mundo sem bombas nem mísseis
Um mundo sem planta artificial.

Porém, sempre que posso me pergunto
Porque não podemos ser assim?!
Basta eu cuidar de você
E você tomar conta de mim.

Não adianta sair por aí matando todo mundo
Só vai ser preso, trancado e espancado
E vai sair mais revoltado pra virar vagabundo
Que pra sociedade, não vai passar de mais um bandidinho Imundo.

Vou deixar de ser bobinho e dar o meu conselho
Não fique aí de joelho
Na frente do espelho com cara de babaca
Vai buscar a sua paz seu panaca!


Thiago Sicuro